Centro de Vitória: Estratégia de Revitalização para Atrair Moradores e Investimentos
Bairro tem recebido obras e projetos voltados para sua retomada como moradia e polos cultural e econômico da Capital.
O Centro de Vitória foi, por muitos anos, o cartão de visitas da capital do Espírito Santo. Os prédios suntuosos e a arquitetura colonial da maioria dos imóveis da região deixam claro o passado glorioso do bairro, que aos poucos foi sendo trocado por áreas mais modernas da cidade, movimento natural nas grandes metrópoles.
Os moradores que resistem em permanecer no Centro, apesar de seu esvaziamento gradual ao longo dos anos, defendem que a região é boa para viver e com grande potencial econômico, mas ressaltam a importância da criação e implantação de políticas visando à valorização do bairro, entre elas a sua revitalização e modernização.
Moradora do Centro de Vitória há mais de 60 anos, a consultora de Gestão da Informação e bibliotecária Todeska Badek, de 67 anos, se diz uma verdadeira apaixonada pelo bairro, tendo presenciado, segundo ela, as principais transformações pelas quais a região passou.
Ela acredita que melhorias promovidas pelo poder público possam trazer de volta o brilho que a comunidade ostentou durante tanto tempo. E, para Todeska, a retomada do Centro como moradia, polo cultural e econômico da Capital passa, principalmente, por sua revitalização.
“O processo de revitalização é importantíssimo porque o Centro não é só o Centro de Vitória, ele é o coração do Espírito Santo. Esse é o meu sentimento. O capixaba precisa conhecer e valorizar ainda mais essa região. É lugar com muitas qualidades e atrativos”, frisou Todeska.
A bibliotecária ainda pontua que qualquer processo de revitalização pelo qual o Centro esteja passando ou venha passar precisa ter como um dos principais objetivos a atração de moradores para o bairro.
“É importante que sejam projetos que consigam trazer as pessoas para cá”, ressaltou.
Investimento de R$ 55 milhões em obras de revitalização
A prefeitura afirma estar em constante diálogo com os moradores do Centro em busca de caminhos para tornar o bairro cada vez mais atraente no que se refere à chegada de novos moradores e também de investidores.
O município estima já ter investido R$ 55 milhões em obras de revitalização dos principais pontos turísticos do bairro.
De acordo com o Executivo municipal, fazem parte do pacote de ações voltadas para revitalização do Centro as obras de restauração e ampliação do Mercado da Capixaba, que estão em fase adiantada, além da reforma da Escola Municipal de Ensino Fundamental São Vicente de Paula e do Residencial Santa Cecília, entre outras.
Museu do Negro e Viaduto Caramuru foram reformados
O Museu Capixaba do Negro e o Viaduto Caramuru, um dos mais emblemáticos de Vitória, são alguns dos pontos turísticos do Centro que já tiveram suas reformas concluídas.
No caso do Museu Capixaba do Negro, a expectativa é que haja abertura de concessão para que um café funcione no interior do espaço.
Em conversa com a reportagem do Folha Vitória na última quinta-feira (19), o secretário municipal de Desenvolvimento da Cidade e Habitação, Luciano Forrechi, afirmou que a ideia é aliar o potencial turístico do local com o desenvolvimento econômico do Centro.
O secretário ainda acrescentou que o Executivo municipal, desde o início da gestão do prefeito Lorenzo Pazolini, tem investido na retomada do Centro de Vitória como motor econômico e cultural da cidade.
“Com os investimentos que estamos fazendo pretendemos trazer mais investidores para essa região. E o mais importante disso tudo é manter as pessoas aqui no Centro, evitando o esvaziamento natural que vem ocorrendo”, disse Forrechi.
Casa abandonada há 10 anos vira clínica no Centro
A engenheira Ana Carolina Orrico decidiu fincar ainda mais as suas raízes no Centro de Vitória, mesmo com todos os problemas enfrentados pelos moradores da comunidade, entre eles a insegurança e a violência.
No ano passado, Ana Carolina tirou do papel um sonho antigo: reformar a casa construída pela avó, um imóvel situado na região central do bairro e que estava abandonado há mais de 10 anos.
Antes da reforma, o local se juntava às centenas de casas e prédios abandonados no centro da Capital, que muitas vezes servem de abrigo para a criminalidade.
Confiante de que o Centro de Vitória ainda tem muito a oferecer a quem quer empreender ou até mesmo morar na região, a engenheira, após realizar a reforma do imóvel, abriu uma clínica especializada em Medicina do Trabalho, na mesma casa em que passou maior parte de sua infância.
Para ela, foi uma forma de manter a memória afetiva aliada à vontade de continuar a viver no Centro, agora com o trabalho fixado lá.
“Fico muito emocionada porque aqui é um lugar em que a gente sempre viveu. Temos muitas memórias relacionadas ao bairro. Fico feliz em ver que, aos poucos, o Centro tem passado por uma transformação positiva, que está se livrando do estigma de estar abandonado, de ter insegurança e criminalidade. A esperança é que ele volte a ser como era antigamente. É isso que todos nós desejamos”, disse Ana Carolina.
Após reforma, imóvel foi incluso em programa de revitalização
O imóvel reformado por Ana Carolina foi incluso em um programa de isenção fiscal da Prefeitura de Vitória denominado “Retrofit”, que tem como objetivo promover a revitalização do Centro com a ajuda dos moradores.
Sancionada em outubro de 2022, a Lei Municipal n° 9882, também conhecida como “Lei do Retrofit”, garante aos moradores e donos de imóveis históricos do Centro de Vitória a isenção de impostos municipais como base nas melhorias promovidas por eles nesses espaços.
Conforme a norma vigente no município, donos de imóveis que realizam melhorias nas fachadas de seus prédios localizados no Centro, por exemplo, podem ficar até cinco anos isentos de pagar IPTU.
De acordo com dados divulgados pela prefeitura no último dia 17, em apenas um ano de vigência da Lei do Retrofit, mais de 25 imóveis do Centro de Vitória estão em processo de qualificação construtiva e receberão o benefício fiscal de isenção de IPTU.
Ana Carolina disse ter conhecido o projeto da prefeitura durante reportagem veiculada na televisão, momento em optou por ser cadastrar no programa.
“Quando vimos o anúncio da prefeitura sobre o retrofit, que trazia a possibilidade de isenção de impostos para quem investisse em melhorias no imóveis, achamos que aquela era a melhor hora para realizar o sonho de ver o imóvel reformado e ocupado novamente”, lembrou a engenheira.
Todeska Badke também teve o imóvel em que mora alcançado pela Lei do Retrofit. O edifício fez melhorias em sua fachada e, por isso, foi incluído no programa de isenção.
O que é o retrofit e quem pode aderir ao programa?
Retrofit na arquitetura é o termo utilizado para o processo de modernização de edificações com o objetivo de adaptá-las às necessidades técnicas, funcionais, de segurança, acessibilidade e de conforto atuais, contribuindo para aumentar a vida útil do edifício e o bem-estar de seus moradores e usuários.
Veja abaixo detalhes:
– Em Vitória, a Lei n° 9.882/2022 definiu que serão consideradas como retrofit as intervenções em imóveis edificados que promovam a melhoria integral das fachadas, coberturas e áreas de uso comum, incluindo: a adaptação tecnológica do conjunto de instalações e equipamentos, o aproveitamento da estrutura e da volumetria do imóvel, dando uso adequado à realidade social e econômica de sua localização.
– A lei flexibiza parâmetros construtivos e concede benefícios fiscais para os imóveis que foram objeto de retrofit no bairro Centro.
– O licenciamento é feito por meio de Alvará de Aprovação e Alvará de Execução GR3 ou GR4 ou de Alvará de Autorização GR 2, de acordo com o enquadramento dado pela Lei Municipal N° 9.772/2021.
– As informações sobre documentação, análise e prazo para resultado da solicitação de adesão ao programa podem ser consultadas diretamente no site da Prefeitura de Vitória.
Projetos urbanísticos para as principais ruas do bairro
A Prefeitura de Vitória ainda sustenta estar trabalhando no desenvolvimento de projetos urbanísticos e paisagísticos que visam modernizar e tornar ainda mais atraentes, aos olhos dos turistas e moradores, algumas das vias mais tradicionais da parte boêmia do Centro, entre elas as ruas Gama Rosa e Sete de Setembro, bem como a Praça Getúlio Vargas e Avenida Beira-Mar. O total de investimento nesta ação é de aproximadamente R$ 1,5 milhão.
Por fim, o secretário de Desenvolvimento do município ressalta que o pleno desenvolvimento do Centro precisa estar pautado em um modelo de negócio atual e de acordo com a realidade.
“Para desenvolver o Centro de Vitória, é importante considerar o modelo de negócio atual. Não adianta pensar no modelo de negócio de 10 ou 20 anos atrás, pois as lojas âncoras e o mercado da internet mudaram isso. Além disso, é importante concluir obras que estavam paradas”, concluiu Forrechi.
Fonte: Folha Vitória.