Atividades desenvolvidas no espaço Centro Pop revelam novos talentos
O ditado “quem vê cara, não vê coração” pode ser adaptado para “quem vê o portão fechado do Centro de Referência Especializado para a Pessoa em Situação de Rua de Vitória (Centro Pop), não vê as potências dos atendidos no espaço”. As habilidades de muitos deles perpassam pelas artes, costura, música, dança, literatura, esportes, chegando nas áreas de segurança do trabalho e da saúde.
Alguns talentos adormecidos, outros descobertos durante as oficinas ofertadas ou nas turmas da Educação de Jovens e Adultos (EJA) realizadas dentro do Centro Pop. Da sala do EJA, por exemplo, já saíram 14 aprovações para o Instituto Federal do Estado do Espírito Santo (IFES), uma delas em primeiro lugar no curso de Segurança do Trabalho. Mas o leque de cursos é amplo.
Das oficinas de artesanato, existem casos como o de Ronaldo Nunes Alexandre, de 49 anos. Ele começou a frequentar a oficina de artesanato por insistência de um dos educadores sociais do espaço e era tudo que ele precisava para se tornar um dos usuários mais assíduos da oficina de artesanato.
Hoje, Ronaldo diz que o tempo gasto para produção manual das peças é o seu momento de terapia. “Antes, ficava só deitado nos cantos. Sentia dores nas mãos. Hoje, não sinto mais nada. No artesanato fui descobrindo meu talento. Fui tendo mais paciência e fui pegando jeito”, contou ele.
A habilidade dele com a arte já está rendendo frutos. Ronaldo conquistou uma vaga no time de colaboradores na confecção de carros alegóricos, painéis e murais da Escola de Samba Chegou o Que Faltava e é um dos principais auxiliares da oficineira Liamara Silva Pimenta nas ações externas voltadas para outras pessoas em situação de rua.
Ronaldo contou que saiu de Minas Gerais com a garantia de emprego para trabalhar em um quiosque no litoral do sul do estado, mas quatro meses depois o local fechou as portas e, ele viu o embarque para Vitória como a única alternativa de sobrevivência.
“Fiquei um mês na rua, até encontrar o Centro Pop. Aqui, encontrei o apoio para ir me reerguendo. Abracei as oportunidades dadas aqui dentro e, já me imagino trabalhando para ajudar outras pessoas a aprender a trabalhar com artesanato. Já estou domiciliado, mas ainda preciso de apoio (alimentação, higienização e das oficinas) para poder seguir em frente”, disse ele.
Para João Vitor Loreti, de 25 anos, os dias da oficina de artesanato tem sido o tempo de sonhar com dias melhores. “Sonho em ter uma profissão. Ser um artista plástico ou alguém que possa trabalhar para ajudar outras pessoas que estão na situação de rua ou na dependência química”, falou ele.
Falante, mas concentrado e uma voz suave, João Vitor disse que enquanto produz as peças sente paz, faz amigos, sente amor pelas pessoas e das pessoas. “Enquanto estou aqui sinto minha vida melhor. Vejo-me como incentivo para outras pessoas. Aqui, sinto que posso sobreviver. Lá fora (se referindo à situação de rua) é muito ruim”, contou o jovem.
Ao ser questionado o que levou a essa condição de situação de ruas, João Vitor não escondeu: “As drogas. Mas aqui fico longe delas. Estou há cinco dias sem nada”, revelou com olhar de vitorioso.
Artesanato
O artesanato também foi a fonte de inspiração e desabrochar da potencialidade de Edmilson, de 44 anos. Nascido na cidade de Manhuaçu, em Minas Gerais, Edmilson está há dois meses no Centro Pop e boa parte desse tempo tem estado nas oficinas de artesanato. “Faço as peças para passar coisas boas na cabeça; ficar mais tranquilo”, disse ele.
O grupo está confeccionando peças para a Feira de Artesanato que está sendo organizada pela Secretaria de Assistência Social, por meio do Centro Pop. A animação do grupo não se abala mesmo sem ter a data marcada, já que a equipe técnica do Centro Pop está em negociação dos espaços e melhores datas para o evento.
Para a secretária de Assistência Social, Cintya Schulz, um dos papéis principais da política da Assistência Social para pessoas em situação de rua é a valorização das potencialidades e a oferta de ferramentas para a superação da condição de vulnerabilidade extrema que essas pessoas se encontram.
As oficinas de artesanato do Centro Pop Vitória funcionam como um espaço de convivência e também de fortalecimento de vínculos, através dos momentos vividos durante as aulas a equipe técnica juntamente com a equipe de oficineiros desenvolvem temas reflexivos, um momento de escuta aos usuários do serviço.
Fonte : PMV
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