GRANDE SÃO PEDRO 47 ANOS – Graça Andreatta a guerreira de São Pedro.

GRANDE SÃO PEDRO 47 ANOS –  Graça Andreatta a guerreira de São Pedro.

Quando São Pedro completou 10 anos, Graça Andreatta publicou um precioso relato histórico de quem participou ativamente do parto, nascimento e formação de um dos mais épicos movimentos comunitários do Espírito Santo. Hoje esgotado, Na Lama Prometida, a Redenção virou fonte de pesquisa imprescindível para a compreensão da Vitória contemporânea ao registrar a luta de migrantes expulsos dos grotões capixabas para vencer em meio à lama e ao lixo da cidade.

Durante décadas a região sofreu com insegurança;

Graça Andreatta a guerreira de São Pedro.

“Meu encontro foi lindo! Um olhar maravilhoso doce na hora que me abraçou. Foi um abraço de almas. Eu me senti como se estivesse em outro patamar da vida Isso não tem preço, nem como esquecer!”

Graça Andreatta

A Região da Grande São Pedro hoje é auto suficiente em comercio, escolas, serviço público em geral. Possui uma infraestrutura conquistada com muito trabalho e fé de todos que residem na região.

O potencial turístico e gastronômico é são riquezas que a Baia Noroeste da Ilha de Vitória oferece a todos que moram ou visitam a região.

Quando São Pedro completou 10 anos, Graça Andreatta publicou um precioso relato histórico de quem participou ativamente do parto, nascimento e formação de um dos mais épicos movimentos comunitários do Espírito Santo. Hoje esgotado, Na Lama Prometida, a Redenção virou fonte de pesquisa imprescindível para a compreensão da Vitória contemporânea ao registrar a luta de migrantes expulsos dos grotões capixabas para vencer em meio à lama e ao lixo da cidade.

Agora, na esteira das comemorações dos 40 anos de São Pedro, celebrados na próxima segunda-feira (4), Graça retorna ao bairro – porém, em verso. A professora, escritora e tradutora lança nesta sexta-feira (1), na sede do Mulheres Unidas de São Pedro (Musp), a história da ocupação de São Pedro em forma de cordel, com folhetos publicados no formato clássico de 10 por 15 centímetros. “É tudo artesanal”, diz ela, que, à falta de guilhotina, está cortando os papeis na base do estilete.
Por que cordel? “Primeiro, porque eu gosto de cordel. E é mais fácil de ler”. Segundo porque ela pensa na juventude do bairro, que, para ela, não se reconhece na história de luta e superação dos pais. Pelo contrário: envergonham-se. “Os jovens que estão chegando agora, só enxergam a parte ruim, do lixo. E em vez de se orgulharem da atividade dos pais, eles se envergonham. O livro é para mudar isso aí que não sei nem que nome dar…”, explica.
Daí, por exemplo, a mensagem de êxito e esperança dos versos abaixo:

Como a gente se uniu

Foi assim o grande motivo

De conquista e sucesso

E de muito cidadão estar vivo.

O povo sempre chegando

Ruas eram uma conquista

Imaginárias no mangue

Junto ao mar. Que bela vista!

A carga emocional do cordel é evidente. Em Na Lama Prometida, a Redenção, Graça assimilava uma experiência ainda surpreendente para todos e produziu um “real emotivo”, como ela classifica o livro, que ganhou tradução italiana e foi dado de presente ao Papa João Paulo II. Ali ela registra o poder incrível de organização que engendrou São Pedro.
Graça chegou em São Pedro no Carnaval do ano de fundação do bairro junto com o então marido, Ruy Coelho, também personagem de extrema importância para a história local – chegou a presidir o Movimento Comunitário do Bairro de São Pedro. O casal fugia da ditadura militar. No Rio de Janeiro, Ruy amargara três meses de prisão e tortura e a capixaba Graça sugeriu o Espírito Santo como refúgio contra a violência oficial.Para não dar na vista, evitaram casa de parentes e foram parar em São Pedro, onde a luta política renasceria quase que de imediato para ambos. A experiência política acumulada catalisou o envolvimento do casal nos problemas da comunidade. A organização que os moradores mostrariam, surgiu daí, de forma quase espontânea. De repente, toda terça-feira tinha reunião para discutir os problemas. Graça trabalhava o tempo todo com educação popular, sempre com o auxílio de outras pessoas.
Naqueles anos, Vitória era a terra prometida de migrantes do interior e de municípios de Minas Gerais e sul da Bahia. Era época ainda da desativação do canteiro de obras da então Companhia Siderúrgica de Tubarão (CST; hoje Arcelor-Mittal).
Foi essa massa de pobres e iletrados acolhida pelo mangue de São Pedro, que, então, recebia todo o lixo produzido em Vitória e de todo o tipo (residencial, comercial, hospitalar e industrial), restos que garantiam a sobrevivência de famílias que habitava barracos minúsculos e andavam sobre a lama em pinguelas, sem acesso a serviços e equipamentos públicos.
Élcio Alves – humano governado, saudoso político.
Em 4 de setembro de 77, numa solenidade pública de instalação de postes de iluminação, que Graça registrou em ata as palavras do então governador Elcio Alvares autorizando as famílias a permanecerem na região. No início do ano, assistentes sociais do governo foram ao bairro tentar convencer as famílias a trocar o local por um projeto do Banco Nacional de Habitação (BNH) nos confins da Serra. Nada feito. O governo capitulou e executou obras de aterro e iluminação pública.
O cordel festeja o passado glorioso sem ingenuidade nostálgica, nem comemoração rasteira. Cita passagens com Dom João Batista e Dom Luís Gonzaga Fernandes, próceres religiosos ligados às aflições do povo pobre; pequenas histórias do cotidiano, como a amarração de canos d’água às pinguelas para não afundarem na lama; com o padre Estevão, que celebrou a primeira missa no local; ou de seu Manoel, um dos primeiros moradores e protagonista do primeiro casamento do bairro; e de Judite, a primeira secretária do Movimento Comunitário do Bairro São Pedro.
Relembra ainda a Associação dos Catadores de Vitória (Acatavi), criada em 1982 após uma vitoriosa greve de 500 catadores, e a usina de compostagem, filhos da luta e organização dos moradores de São Pedro. Por fim, cita por nomes e apelidos as inúmeras pessoas que ajudaram a construir São Pedro. Marias, Fátimas, Marlenes, Antônios, Josés, Baiano, Ceará, Ligeirinho.
A partir de segunda-feira (4), Graça se debruça sobre um novo livro, em que vai falar de política. E, em novembro, tem mais comemoração: completa 70 anos no dia 24, que serão devidamente festejados na Rua Sete de Setembro, no Centro de Vitória.

E DEUS VIU QUE ERA BOM

 Era uma vez em Vitória

Estado do Espírito Santo

Um manguezal florescente

Cheio de  árvores e  encanto.

Garças e caranguejos

Exibiam-se para o mar,

Enquanto homens cansados

De buscar e trabalhar

No final da jornada podiam

Sequer ter família, um lar.

Vieram do campo sozinhos

Não tinham onde morar

Expulsos pelo pé do boi

Cana de álcool e eucalipto,

Deixaram suas casinhas

E vieram para a cidade

Sonhando com dias melhores

Encontraram crueldade

Fonte: Século Diário.

Edição; Mario Barnabé Berardinelli Bernabé