Famílias que receberam o cartão Vix + Cidadania revelam o que vão comprar
A dona de casa Tatiana Cruz Pessotti, de 42 anos, mãe de três filhos, de 12, 8 e 5 anos, moradora do Centro de Vitória, acordou cedo na manhã do último sábado (11) para se juntar a outras 370 famílias que receberam o cartão do Programa Vix + Cidadania. Ele garante o benefício de R$122,88 reais por membro das famílias como a de Tatiana, considerada em situação de extrema pobreza e/ou de violação de direitos.
Quem olha por fora da residência de Tatiana, que mora em um apartamento com vista para a Catedral Metropolitana de Vitória, também poderia estranhar o fato dela estar na fila dos beneficiários.
Mas, ao conhecer a história de vida de Tatiana e ouvir as indagações das crianças sobre o que poderiam comprar com o cartão, consegue compreender como é difícil viver com R$ 400,00 mensais e outros benefícios eventuais. “Meus filhos fazem a primeira refeição na escola pública que estudam. O almoço ou um segundo lanche também é feito na escola. Quando chegam em casa juntamos o que têm, ou um biscoito ou…”, a voz embargada não a deixa concluir a fala.
Tatiana disse que nunca imaginou estar nessa condição, mas há pouco mais de um ano, viu sua vida mudar do vinho para água. “Muitas vezes não temos quase nada para comer. O alimento vem da cesta de alimentos recebida nas unidades da Semas (Secretaria Municipal de Assistência Social), ou da pastoral. Meu pai, de 70 anos, emprestou o apartamento para morarmos e foi morar em Aracruz. É ele quem paga o condomínio. Caso contrário, não teríamos nem onde morar”, admitiu Tatiane.
Enquanto ia de carona até o Tancredão para buscar o cartão Vix + Cidadania, a conversa dos filhos era: “Mãe você vai poder comprar banana”, dizia o filho do meio. “Você pode comprar maçã. Eu gosto muito”, comentou o filho caçula. “Pode comprar picolé também”, acrescentou o caçula.
Em resposta, Tatiane disse: “Vamos ver primeiro quanto vou receber. Não vamos ficar ricos, não hein meninos”, falou sorrindo. Em tom mais baixo, a dona de casa disse: “Tem meses que eles não comem uma banana em casa, nem uma maçã. É arroz, feijão, macarrão, uma coisa com fubá, porque são essas coisas que vem na cesta de alimentos. Com o cartão vou poder pagar o gás que acabou ontem (na sexta-feira -10). Peguei emprestado com uma vizinha, agora tenho que devolver”, justificou ela.
A situação de Tatiane se assemelha a de Wedson Freitas da Silva, de 23 anos; a de Letícia Gabrieli, de 21 anos, mãe de quatro filhos com idades que vão de 7 a 3 anos; a de Rosiane Lima Batista, casada e mãe de Maria Vitória, de 8 anos; e a de Josevalda Jesus Nascimento, de 51 anos.
Na fila para retirada do cartão, Wedson disse que o valor de R$ 122,88 do benefício seria usado para ajudar a mãe na compra de alimentos. “Moro sozinho, mas estou desempregado. Então como todos os dias na casa de minha mãe. O dinheiro do cartão será metade para ela e, metade para mim. Vou usar para comprar produtos de higiene pessoal e limpeza”, contou ele.
Já Letícia disse que já ia sair dali direto para o mercado comprar fralda para o filho caçula de 3 anos. Ela contou que a renda da casa vem da venda de balas na porta de supermercado ou de esmolas pedidas nas ruas do centro.
Para Josevalda, o Vix + Cidadania chegou no momento certo. “Há seis meses fiz o CadÚnico. Nunca recebi nada do governo. Essa é a primeira vez. Fiquei muito feliz. Vivo da ajuda do meu filho”, contou ela. Quis saber qual a primeira coisa que pensou em comprar com o dinheiro. Josevalda não titubeou: “Picanha. Pobre também gosta de coisa boa. Vou comprar nem que seja um bife para comer a noite”, sorriu ela.
Emocionada após receber o cartão, a dona de casa Rosiane e a filha Maria Vitória falaram juntas que comprariam com o dinheiro frutas e coisas para fazer salada. Maria Vitória fez questão de acrescentar “eu amo salada. E quero um miojo”. A mãe atenta disse “miojo não. Não é saudável”. Maria Vitória insistiu “hoje pode mãe. Eu não como isso nunca. Eu não como, mas gosto. Só um dia pode”. Nessa hora, Rosiane rebateu “miojo é comida de preguiçoso”. Rosiane, que está desempregada, vive com a renda da venda de chup-chup.
A secretária de Assistência Social, Cintya Schulz, disse que quando lemos e ouvimos os relatos das famílias beneficiadas com o Vix + Cidadania temos a certeza do quanto o direito humano à alimentação é importante. “O esforço da prefeitura em disponibilizar R$13,7 milhões com foco na autonomia das famílias é uma de suas maiores entregas para toda a cidade, especialmente para quem mais precisa”, enfatizou Cintya Schulz.
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