Educação encerra mês de conscientização sobre autismo com relatos emocionantes
Envolver a comunidade escolar, criar estratégias pedagógicas que sejam inclusivas, acolher as diferenças. Para encerrar o mês de abril e as ações de conscientização sobre o autismo na rede municipal de ensino de Vitória, a Secretaria de Educação (Seme) organizou o evento “Autismo: conhecer para melhor acolher”, com a presença de diretores das unidades de ensino e profissionais da rede.
“A escola é um lugar para todos. A escola inclusiva precisa ser construída dia a dia. O dia da educação é todo dia. A gente reafirma isso o tempo todo, a escola é lugar de todos. E isso tem que ser coletivo. O que vai garantir a inclusão de todos é o acolhimento, é olhar para as nossas crianças e estudantes. Todas as pessoas têm o direito de estar na escola”, afirmou a secretária de Educação de Vitória, Juliana Rohsner.
Atualmente, a rede tem 2.444 crianças e estudantes público da educação especial. Do total, 1.306 são autistas de diversos níveis. “O que a gente mais quer é que os nossos estudantes estejam em todos os espaços. Eu não acredito que haja uma boa educação se ela não for boa para todos. Não tem que ser o trabalho de uma escola, tem que ser o trabalho de uma rede”, enfatizou a coordenadora da Educação Especial, Carla Gagno.
Antes da primeira mesa, com apresentação de boas práticas com crianças e estudantes autistas, os escritores André Rodrigues Cunha, do 8º ano, e Simião Siqueira, do 9º ano, matriculados na Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Rita de Cássia Oliveira, falaram ao público presente sobre suas produções literárias. Em 2022, eles lançaram os livros “The Might André” e “Espião vs Espião”, respectivamente.
“Eu criei o livro por causa de um jogo e queria criar um personagem. Essa ideia foi surgindo, a história foi ilustrada por mim. Vai ter um próximo livro, com a continuação da história”, revelou André.
“Esse livro era um simples dever que eu estava fazendo na aula de Português. Eu meio que me inspirei numa série que estava assistindo e resolvi fazer a história misturando um pouco ação e suspense”, contou Simeão.
Boas práticas
Ouvir, observar, acolher, conhecer. A terapeuta ocupacional Lívia Hosken, que também é mãe de Heitor, matriculado no Centro Municipal de Educação Infantil (Cmei) Cecília Meireles, em Monte Belo, fez uma apresentação sobre “Neurodiversidade, autismo, interdisciplinaridade”.
“Cada ser humano, em sua composição cerebral, é único, independente de ser típico ou atípico. Não existe um padrão de normalidade. A diversidade caracteriza a composição de cada cérebro humano. A maioria dos autistas tem algum grau de disfunção sensorial. Algumas teorias nos ajudam a validar o indivíduo como um ser complexo”, explicou.
Priscilla Santos, professora da Educação Especial no Cmei Cecília Meireles, ressaltou que a Educação Infantil tem como compromisso o desenvolvimento integral da criança, com o foco na criança em sua inteireza em uma condição de aprendizagem e em que o brincar é uma linguagem universal.
“Eu trago como premissa do meu trabalho o princípio do acolhimento, que envolve afeto, tempo, é uma atitude acolhedora que deve ser mantida ao longo do ano inteiro. Quem é essa criança além do diagnóstico de autista? É preciso compreender as singularidades. As mini-histórias têm sido uma ferramenta muito potente, vou percebendo essa criança, registrando a vivência da criança e narrando as percepções. É um olhar poético do cotidiano. Essas crianças precisam ser vistas no ambiente escolar e as mini-histórias ajudam a sensibilizar o olhar enquanto profissional”, compartilhou.
Envolvidas com a produção literária na Emef Rita de Cássia Oliveira, a diretora Elaine Cristina Vieira e a pedagoga Alice Pilon falaram um pouco sobre os processos envolvendo a construção da educação inclusiva.
“Quando eu me tornei coordenadora do tempo integral, entendi que a palavra inclusão é muito complexa. A gente só passa a enxergar quando a gente está dentro. Não podem existir grupos transparentes na escola, os estudantes da educação especial são estudantes da escola, são estudantes da turma. Sim, são muitos desafios. Mas tem que ser todo mundo junto e misturado, ninguém pra trás. Acreditamos que a cada dia nos tornamos mais inclusivos, uma vez que a inclusão é um processo, um princípio ético que norteia a ação pedagógica da escola. A gente quer que todos os nossos estudantes voem muito alto”, afirmou a gestora escolar.
“Hoje, um dos grandes dilemas da educação brasileira, é a apropriação da leitura e da escrita. Quando vejo dois adolescentes, que são autistas, autores, eles ultrapassaram todas as expectativas. Eles transformaram a leitura e a escrita em prática social. E isso só aconteceu porque a escola pensou primeiro nos estudantes, nas demandas deles, para então pensar nas formas de atuar”, ressaltou.
A experiência das famílias
Além de ouvir profissionais da rede, o evento também proporcionou um momento de fala de familiares e envolvidos na mobilização pelos direitos de pessoas com transtorno do espectro autista.
Paula Pazolini, promotora de Justiça Criminal do Município de Serra, apresentou casos, relatos a respeito do autismo, lembrando que cada etapa que a família passa na rede de ensino é um novo desafio.
“A gente não transforma o mundo sozinho. A inclusão é um desafio para as escolas. Só vamos conseguir incluir quando os direitos e garantias forem para todos. A rede pública é garantidora de direitos enquanto as crianças e estudantes estão na escola”, destacou.
Entre os apontamentos feitos, a relação família-unidade de ensino foi destaque. “O autismo não tem cura e a causa não é certa. A neurodiversidade nada mais é do que a formatação do cérebro diferente. Vocês, como gestores, têm a questão de perceber e assimilar o transtorno do espectro autista. E para entender o autista, é preciso saber como é aquele indivíduo. Conhecer a família, quem cuida daquela criança, daquele estudante”, disse Denys Rangel Moraes, advogado e pai de autista.
Empreendedora e mãe de autista, Viviana Monteiro emocionou a plateia com seu depoimento, fazendo um relato que as pessoas não acolhem o que não conhecem e que isso pode acontecer dentro das famílias também. Além disso, ela pontuou que a maneira que as escolas se relacionam com as famílias das crianças autistas faz toda a diferença.
“O maior pesadelo de uma mãe solo de uma criança autista é a escola ligar e dizer ‘Vem buscar seu filho’. E isso não aconteceu aqui em Vitória. O meu filho foi acolhido na escola. E eu entendi que eu só conseguiria cuidar dos meus filhos se eu fosse parceira da escola. Eu não conhecia o autismo, eu precisei conhecer, entender, para acolher os meus filhos. Hoje, eu trabalho e sei que tem uma equipe de professores, pedagogos, coordenadores que mudaram a história da minha vida, que mudaram a história dos meus filhos. Essa equipe me acolheu, acolheu os meus filhos. Eu não estou sozinha, eu tenho vocês comigo”, afirmou.
Os filhos da empreendedora estão matriculados na rede municipal de Vitória, eles estudam na Emef Adão Benezath, localizada no bairro Antonio Honório.
Fonte : PMV
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